Esta turma costuma refletir bastante!

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Eleições e Civilidade


Por David Coimbra
Estava assistindo, ainda que de forma meio distraída, é verdade, aos capítulos derradeiros dessa novela das 9. O vilão é tomado por súbito ataque de bom-caratismo, arrepende-se, martiriza-se, até a peruca ele tira, e a professorinha humilde, mas com sensibilidade, coragem e consciência social, elege-se prefeita e salva a comunidade.
É mais ou menos essa a ideia que impregna os processos eleitorais brasileiros, como o que ocorre neste domingo. Se você vota "direito", os "bons" são eleitos e praticam o "Bem" e o som dos violinos sobe e todos vivem felizes para sempre.
Segundo essa crença, o exercício da democracia ensina o povo a votar. Quanto mais eleições se sucedem, melhor a qualidade do voto.
Que bobagem.
Pegue o país que tem maior experiência nessa área, os Estados Unidos. Existe a chance de Trump ser eleito presidente em novembro. Antes dele, não faz muito, Bush elegeu-se duas vezes.
Certo.
Agora procure correlatos no Brasil. Trump é um falastrão muito parecido com Collor de Mello e Bush... Se você acha Bush ruim, lembre-se de que o Brasil elegeu Dilma DUAS VEZES.
Não. Não se "aprende" a votar. O voto é emocional, e a maioria das pessoas, em qualquer país do mundo, pouco se informa sobre os candidatos ou sobre a realidade política. A maioria das pessoas simplesmente "não liga".
A diferença entre as democracias brasileira e americana não é a qualidade do voto.
Ontem mesmo, na rua, esbarrei, ou quase esbarrei, com uma ilustração viva da diferença entre as duas democracias. Eu caminhava depressa, estava apressado, porque tinha de pegar meu filho em algum lugar e havia me atrasado. Na minha frente, ia uma moça. Havia espaço na calçada para nós dois, eu só precisava fazer um desvio para ultrapassá-la e seguir em frente. Mas ela, meio que espiando por cima do ombro, percebeu que eu vinha rápido e queria passar. Então ela parou, saiu da frente, sorriu e disse:
– Sorry.
Pediu desculpas.
Era eu quem tinha de correr, eu quem tinha de pedir licença, desculpa e ir embora. Ela, porém, lamentou por estar, de alguma forma, atrapalhando a minha vida e fez questão de dar lugar.
Isso vive acontecendo por aqui. No supermercado, se você entra com o carrinho em um corredor e alguém está obstruindo o caminho, agachado, escolhendo entre as latas de azeite de oliva, é bem provável que essa pessoa, ao perceber que você parou, levante-se de um pulo e quase implore:
– Sorry! Sorry!
Isso significa que o americano é mais bondoso do que o brasileiro?
Não.
Significa, exatamente, que a compreensão sobre democracia é outra. Porque democracia não é só ir à seção eleitoral, digitar o número do candidato na urna eletrônica e voltar para o churrasco que o seu cunhado está assando. A democracia, muito além do voto, é o entendimento de que todos têm compromissos com a vida em comunidade, responsabilidades e deveres.
E um dos deveres é o da civilidade.
Já contei que o lema da escola do meu filho é "work hard, be kind and help others", trabalhe duro, seja gentil e ajude os outros. É um resumo da democracia americana.
Quer dizer que todos os americanos são assim?
Não.
Quer dizer que todos os americanos sabem que deveriam ser assim. Ou que é o que se espera deles.
É dessa comunidade composta por cidadãos que se guiam pela cultura de trabalhar duro, ser gentil e ajudar os outros que saem os políticos que pedirão voto um dia. E, assim, a política fica mais reta, mesmo que haja riscos de Bushs e Trumps.
Os americanos não são melhores do que os brasileiros. Os Estados Unidos não são melhores do que o Brasil. Em muitos aspectos, o Brasil é melhor do que os Estados Unidos. Mas a noção de democracia que existe nos Estados Unidos é muitíssimo superior à do Brasil.
Numa verdadeira democracia, o voto é importante, mas o respeito é fundamental.


quinta-feira, 14 de julho de 2016

A alegria veste a tristeza


Não há alegria inteira, nem tristeza pura, uma depende da outra. Podemos transpirar euforia, mas sobreviverá uma pontinha de melancolia lá no fundo de nosso riso. Porque mantemos a consciência de que a alegria, por mais duradoura que seja, vai passar. Que ela logo se transformará em nostalgia, e que não estaremos mais plenos como daquele jeito de novo – e isso não é ruim e nem é bom, é inevitável da experiência. A tristeza dentro da alegria nos permite pensar e entender o quanto aquele momento é importante e que precisamos aproveitá-lo enquanto dura.
A alegria é esta vontade de ser para sempre que termina. A tristeza vem nos consolar a aceitar que o fim de uma lembrança não significa o fim de nossa vida. De igual forma, dentro da tristeza mais severa, da depressão mais aguda, é possível notar a presença de uma alegria discreta, retraída, tímida.
Tudo pode soar péssimo, mas um abraço, um quindim, um filme, o telefonema insistente de um amigo é capaz de nos devolver a vontade de dar a volta por cima. A simplicidade é terapêutica, a banalidade nos cura dos grandes males da solidão. Haverá sempre o sol por detrás das nuvens escuras dos pensamentos suicidas. Na sombra mais espessa de nosso temperamento, coexistem os raios solares minúsculos do contentamento, das dádivas da rotina e dos pequenos prazeres.
Estaremos desolados com o tempo fechado e chuvoso do rosto, não enxergando nenhuma saída, mas a alegria se conservará perto e nos mostrará que a tristeza também passará, que é uma fase e um ciclo para absorver separações, desentendimentos e traumas. A lágrima brilhará como uma vidraça limpa e iluminada. Se a tristeza é saudade dentro da alegria, a alegria é esperança dentro da tristeza.
Nenhum sentimento é definitivo e completo. A luz veste a sombra, a sombra veste a luz. A alegria costura a tristeza, a tristeza costura a alegria. Alfaiates que se revezam no longo pano dos dias.
Fabrício Carpinejar

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