Esta turma costuma refletir bastante!
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Intimidade
Houve um tempo, crianças, em que a gente não falava de sexo como quem fala de um pedaço de torta. Ninguém dizia Fulano comeu Beltrana, assim, com essa vulgaridade. Nada disso. Fulano tinha dormido com ela. Era este o verbo. O que os dois tinham feito antes de dormir, ou ao acordar, ficava subentendido. A informação era esta, dormiram juntos, ponto. Mesmo que eles não tivessem pregado o olho nem por um instante.
Lembrei desta expressão ao assistir Encontros e Desencontros. No filme, Bill Murray e Scarlett Johansson fazem o papel de dois americanos que hospedam-se no mesmo hotel em Tóquio e têm em comum a insônia e o estranhamento: estão perdidos no fuso horário, na cultura, no idioma, e precisando com urgência encontrar a si mesmos. Cruzam-se no bar. Gostam-se. Ajudam-se. E acabam dormindo juntos. Dormindo mesmo. Zzzzzzzzzzz.
A cena mostra ambos deitados na mesma cama, vestidos, conversando, quando começam a apagar lentamente, vencidos pelo cansaço. Antes de sucumbir ao mundo dos sonhos, ele ainda tem o impulso de tocar nela, que está ao seu lado, em posição fetal. Pousa, então, a mão no pé dela, que está descalço. E assim ficam os dois, de olhos fechados, capturados pelo sono, numa intimidade raramente mostrada no cinema.
Hoje, se você perguntar para qualquer pré-adolescente o que significa se divertir, ele dirá que é beijar muito. Fazer campeonato de quem pega mais. Beijar quatro, sete, treze. Quebram o próprio recorde e voltam pra casa sentindo um vazio estúpido, porque continuam sem a menor idéia do que seja um encontro de verdade, reconhecer-se em outra pessoa, amar alguém instintivamente, sem planejamento. Estão todos perdidos em Tóquio.
Intimidade é coisa rara e prescinde de instruções. As revistas podem até fazer testes do tipo: “descubra se vocês são íntimos, marque um xis na resposta certa”, mas nem perca seu tempo, a intimidade não se presta a fórmulas, não está relacionada a tempo de convívio, é muito mais uma comunhão instantânea e inexplicável. Intimidade é você se sentir tão à vontade com outra pessoa como se estivesse sozinho. É não precisar contemporizar, atuar, seduzir. É conseguir ir pra cama sem escovar os dentes, é esquecer de fechar as janelas, é compartilhar com alguém um estado de inconsciência. Dormir juntos é muito mais íntimo que sexo.
Martha Medeiros
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Marcadores de reflexões:
Adolescência
(1)
Alberto Mantovani Abeche
(1)
Alexandre Garcia
(1)
Américo Canhoto
(1)
Amizade
(4)
Amor
(1)
Andrew Matthews
(3)
Aneli Belluzzo Simões
(1)
Ano Novo
(2)
Antônio Mesquita Galvão
(1)
Aparência
(1)
Arnaldo Jabor
(6)
Arthur da Távola
(2)
Artigos da revista Cláudia
(1)
Ary Fontoura
(1)
Autoria desconhecida
(28)
Bem-estar
(4)
Brasil
(1)
Brena Braz
(1)
Brian Dyson
(1)
Carla Rojas Braga
(1)
Carlos Drummond de Andrade
(5)
Carlos Reinaldo Mendes Ribeiro
(1)
Carnaval
(1)
Cecília Meireles
(1)
Cedidos por amigos
(1)
Charges
(1)
Charles Chaplin
(4)
Chico Buarque
(2)
Cinema
(1)
Civilidade
(1)
Clarice Lispector
(5)
Corrupção
(1)
Crônicas
(2)
Crueldade Humana(?)
(1)
Dalai Lama
(1)
Dalmir Sant'Anna
(1)
Daniel Bruno de Castro Reis
(1)
Danuza Leão
(3)
Datas especiais
(14)
David Coimbra
(2)
Dia da Criança
(1)
Dia das Mães
(1)
Dia do Amigo
(1)
Dia do Professor
(1)
Dia dos Pais
(2)
Dia Internacional da Mulher
(1)
Diovana Rodrigues
(1)
Dráuzio Varella
(1)
E-book do Prof. Marins
(1)
E-mails
(1)
Educação
(1)
Eleições
(1)
Evandro Amoretti
(1)
Fabiana Kaodoinski
(1)
Fabrício Carpinejar
(7)
Fátima Irene Pinto
(1)
Fernanda Mello
(1)
Fernando Pessoa
(2)
Flávio Gikovate
(2)
Flávio Tavares
(1)
Gabi Borin
(1)
Gilberto Stürmer
(1)
Halloween
(1)
Herbert Vianna
(1)
Herman Melville
(1)
Impunidade
(1)
Internet
(1)
Ivete Sangalo
(1)
Jornal Zero Hora
(1)
José Geraldo Martinez
(1)
José Ronaldo Piza
(1)
Kahlil Gibran
(1)
Kledir Ramil
(1)
L. F. Veríssimo
(7)
Laerte Russini
(1)
Léo Lolovitch
(2)
Letícia Thompson
(24)
Letra de música
(5)
Lilian Poesias
(1)
Lya Luft
(4)
Magistério
(1)
Maktub
(4)
Marcial Salaverry
(1)
Maria Helena Matarazzo
(2)
Mário Quintana
(2)
Martha Medeiros
(31)
Masaharu Taniguchi
(1)
Mau-humor
(1)
Menalton Braff
(1)
Mensagens
(7)
Meu aniversário
(1)
Meus blogs
(4)
Minha autoria
(67)
Miriam de Sales Oliveira
(1)
Motivação
(2)
Mulher
(8)
Natal
(2)
Oliveira Fidelis Filho
(1)
Oscar Wilde
(1)
Osho
(3)
Oswaldo Montenegro
(1)
Otimismo
(1)
Páscoa
(3)
Paulo Coelho
(2)
Paulo Roberto Gaefke
(5)
Paulo Sant'Ana
(1)
Pe. Fábio de Melo
(1)
Poemas
(1)
Política
(1)
Programa Fantástico
(1)
Promoções
(1)
Protesto
(1)
Recebidos por e-mail
(10)
Redação Momento Espírita
(4)
Reflexões
(20)
Reinaldo C. Moscatto
(1)
RH Andrade Gutierrez
(1)
Richard Bach
(1)
Rivalcir Liberato
(5)
Roberto Shinyashiki
(4)
Rosana Braga
(2)
Rosane de Oliveira
(1)
Rose Mori
(1)
Saúde
(4)
Selos
(4)
Sexo
(3)
Silvana Duboc
(1)
Tais Vinha
(1)
Textos Criativos
(1)
Textos Psicografados
(1)
Titãs
(1)
Tragédias
(1)
Vida real
(5)
Vídeo + texto de minha autoria
(11)
Vídeos
(1)
Vídeos feitos por mim
(1)
Vinícius de Moraes
(1)
Violência
(1)
Vitor Hugo
(1)
William Shakespeare
(1)
YouTube Vídeos
(4)
10 comentários:
Sonia, intimidade é algo que foge à compreensão de certas pessoas, concordo em tudo nesse texto de Martha Medeiros,intimidade é muito mais que sexo mesmo, vai muito mais além...
Um super abraço!
Boa semana!
Salve Martha!!!
Amo muito tudo o que ela escreve!!
bj
oi soninha uma semana de muita paz para vc. O post é bem interessante , é a pura verdade, hoje não se valirisa tanto o amor, e o sexo. um abraço carinhoso celina.
Intimidade nasce e cresce, não surge por encanto, de uma hora para a outra, mesmo...
Beijo, beijo.
ℓυηα
A Martha é ótima e escreve magnificamente...
Belo texto... Parabéns, Soninha!
"Intimidade é você se sentir tão à vontade com outra pessoa como se estivesse sozinho. É não precisar contemporizar, atuar, seduzir."
Intimidade é coisa rara!
Bjs, amiga!
Soninha,realmente a intimidade anda muito vulgarizada!Adorei esse artigo da Martha!Bjs,
Lindo texto da Marta e as coisas mudaram mesmo!beijos,chica
Este texto é perfeito, paz.
Beijo Lisette
Cada dia que passa estou a adorar mais esta mulher, Martha Medeiros. Conhecia-a através das tuas maravilhosas reflexões que são deliciosas.
Muito bom esta reflexão, mostra o como ou o rumo em que o sentimento humano está a caminhar para o vazio.
Beijinhs fofos e até o regresso;)
ótimo, sou um apaixonado por este tipo de texto, valeu muiiiiito, bjos, bjos e bjosssssssssssssss
Postar um comentário