Esta turma costuma refletir bastante!

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Nunca imaginei um dia


Até alguns anos atrás, eu costumava dizer frases como "eu jamais vou fazer isso" ou "nem morta eu faço aquilo", limitando minhas possibilidades de descoberta e emoção. Não é fácil libertar-se do manual de instruções que nos autoimpomos. Às vezes, leva-se uma vida inteira, e nem assim conseguimos viabilizar esse projeto. Por sorte, minha ficha caiu há tempo.

Começou quando iniciei um relacionamento com alguém completamente diferente de mim, diferente a um ponto radical mesmo: ele, por si só, foi meu primeiro "nunca imaginei um dia". Feitos para ficarem a dois planetas de distância um do outro. Mas o amor não respeita a lógica, e eu, que sempre me senti tão confortável num mundo planejado, inaugurei a instabilidade emocional na minha vida. Prendi a respiração e dei um belo mergulho.

A partir daí, comecei a fazer coisas que nunca havia feito. Mergulhar, aliás, foi uma delas. Sempre respeitosa com o mar e chata para molhar os cabelos, afundei em busca de tartarugas gigantes e peixes coloridos no mar de Fernando de Noronha. Traumatizada com cavalos (por causa de um equino que quase me levou ao chão quando eu tinha oito anos), participei da minha primeira cavalgada depois dos 40, em São Francisco de Paula. Roqueira convicta e avessa a pagode, assisti a um show do Zeca Pagodinho na Lapa. Para ver o Ronaldo Fenômeno jogar ao vivo, me inflitrei na torcida do Olímpico num jogo entre Grêmio e Corinthians, mesmo sendo colorada. Meu paladar deixou de ser monótono: comecei a provar alimentos que nunca havia provado antes. E muitas outras coisas vetadas por causa do "medo do ridículo" receberam alvará de soltura. O ridículo deixou de existir na minha vida.

Não deixei de ser eu. Apenas abri o leque, me permitindo ser um "eu" mais amplo. E sinto que é um caminho sem volta.

Um mês atrás participei de outro capítulo da série "Nunca imaginei um dia". Viajei numa excursão, eu que sempre rejeitei essa modalidade turística. Sigo preferindo viajar a dois ou sozinha, mas foi uma experiência fascinante, ainda mais que a viagem não tinha como destino um país do circuito Elizabeth Arden (Paris-Londres-Nova York), mas um país africano, muçulmano e desértico. Aliás, o deserto de Atacama, no Chile, será meu provável "nunca imaginei um dia" de 2010.

E agora cometi a loucura jamais pensada, a insanidade que nunca me permiti, o ato que me faria merecer uma camisa-de-força: eu, que nunca me comovi com bichos de estimação, adotei um gato de rua. Pode colocar a culpa no espírito natalino: trouxe um bichano de três meses pra casa, surpreendendo minhas filhas, que já haviam se acostumado com a ideia de ter uma mãe sem coração. E o que mais me estarrece: estou apaixonada por ele.

Ainda há muitas experiências a conferir: fazer compras pela internet, andar num balão, cozinhar dignamente, me tatuar, ler livros pelo kindle, viajar de navio e mais umas 400 coisas que nunca imaginei fazer um dia, mas que já não duvido. Pois tem essa também: deixei de ser tão cética.

Martha Medeiros

Esse texto foi escrito pela Martha, minha ídola, há alguns anos... Mas o assunto é pertinente a qualquer momento, pois quem já não pensou ou falou assim: "Nunca imaginei um dia..." e acabou mudando de ideia?
Conte a sua experiência nesse sentido!



9 comentários:

Sônia Silvino (CRAZY ABOUT BLOGS) disse...

Nunca imaginei um dia... que teria tantos blogs! Inclusive, eu vivia dizendo que nem queria ter computador. Só rindo mesmo!!!!

Unknown disse...

Oi Soninha,

Saudades de vir por aqui...
Eu também nunca imaginei um dia mostrar meus "escritos" para ninguém. E hoje, olha eu escancarando as minhas palavras para todo mundo ler... Rsrsrs
O que antes era improvável, foi a mina libertação.
Lindo texto da Marta (que eu também sou fã)! Parabéns pela escolha

Bjs

Leila

chica disse...

Lindo esse texto e como é bom ficar "malucas" de vez em quando e fazer coisas estranhas.... beijos,lindo fds,chica

Anne Lieri disse...

Soninha,eu tb nunca imaginei que um dia estaria aqui lendo tantos blogs da Sonia Silvino!...rss...muito legal essa vida!bjs,

Anônimo disse...

Nunca imaginei um dia, deixar de ir a praia, hoje em dia eu gosto, mas faz 8 anos que não vejo o mar, e não sinto saudade, e eu contava os dias para poder ir e ficar de molho literalmente, chegava a ser repreendida pelos salva-vidas por ir tão longe da praia.

Zilda Santiago disse...

Conheço esta experiência do "nunca imaginei um dia"...Deixei de repetir a frase há mt tempo,pois descobri logo cedo que não é assim que a banda toca.Amo a Martha!!!!Vou compartilhar.Bjsss

Amara Mourige disse...

Esse texto é demais!
Como diz o velho dito popular: “Nunca diga dessa água não beberei",adoro os textos de Martha.
Bjs
Amara

Tunin disse...

Soninha, nunca imaginei usar óculos escuros. Achava que não caíam bem no meu perfil e ficava cheio de "grilos". Hoje, uso-os sem medo de errar.
Muito bom o texto.
Abração.

ALUISIO CAVALCANTE JR disse...

Querida amiga

Quando as palavras
encontram sentimentos
que fazem com que elas
encontrem seus sentidos,
nossa vida se enfeita
com as cores da esperança.

Obrigado por sua amizade.

Aluísio Cavalcante Jr.

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