Na década de 60 fez sucesso o documentário Mondo Cane que, embalado pela excelente trilha sonora... (More), apresentava aberrações em tom de denuncismo para chocar a plateia. Animais sacrificados a porretadas, devotos se flagelando e perfurando o corpo, etc. O público sentia-se bem, por ser civilizado e superior a aqueles selvagens, ao assistir ao bem elaborado espetáculo de violência e barbarismo. A fórmula deu certo.
Mas ao preparar a continuação do documentário o diretor, Gualtiero Jacopetti, teria orientado os membros de uma tribo na África, para que mudassem o local de uma execução, para outro onde haveria melhor luz para a filmagem.
A notícia ganhou mundo e a continuação da série fracassou. Era um caso típico da mídia sobrepondo-se à ética. Hoje é difícil falar em ética, mas facílimo observar a mídia. Um policial atropela as normas legais, desrespeita as garantias da Constituição, combina previamente com a imprensa e expõe seus suspeitos nacionalmente. Não se limita a investigar, ele julga e executa, pois o patíbulo eletrônico é mais destruidor que os suplícios dos tempos do Santo Ofício. O pseudojusticeiro ganha fama instantânea e o processo torna-se mero apêndice sem relevância.
Para que isso prospere, assim como no filme italiano, é preciso que o público goste. E ele gosta. Esquecendo que o linchamento sem defesa é o oposto da Justiça. O Legislativo tem um festival de mazelas exposto diariamente. A maior iniciativa para a destruição moral do Parlamento partiu do Executivo, ao criar a corrupção sistêmica do malfadado Mensalão. Já surge a ideia de acabar com o Legislativo. Os inimigos da democracia se babam de deleite, e, aproveitando as lições de Gramsci, devidamente tropicalizadas e com recursos da mídia eletrônica, alimentam este clima, pois lhes interessa destruir as instituições. O que é para ser sigiloso acaba “vazando” e nada acontece com os autores desses estratégicos “vazamentos”, o arbítrio se banaliza. A obsessão pela notoriedade alimenta o apetite das luzes da mídia, que se compraz com os que lhe devotam subserviência. Quem trabalha corretamente de forma discreta, como convém à atividade judiciária, não se torna notícia e estes, felizmente, são a maioria. As escutas clandestinas, as operações midiáticas, a corrupção onipresente, formam um triste conjunto do estado policial, que ameaça a todos. É bom lembrar que o panis et circensis era o recurso predileto dos tiranos, os que recebiam o pão fácil do imperador e divertiam-se no circo, esqueciam que o preço deste espetáculo era a sua liberdade. O estrabismo da mídia que só enxerga o torto, sem valorizar o correto, também pode estar sendo manipulado e isso conduz ao descrédito geral. Que os corruptos sejam punidos, sem exceção, que acabem os abusos e privilégios, mas sempre dentro da lei; lembrando que a impunidade é o câncer que devora nossa sociedade. A relação promíscua de repórteres com protagonistas de ações espetaculares e arbitrárias, não pode ser minimizada. Não é possível tolerar que nossas garantias constitucionais sejam queimadas na fogueira de vaidades. Nada mais importante que a democracia, a justiça e a liberdade. Com estes valores não se pode transigir. Fora deles, apenas o mundo cão. Será isso que queremos?
Léo Lolovitch
A notícia ganhou mundo e a continuação da série fracassou. Era um caso típico da mídia sobrepondo-se à ética. Hoje é difícil falar em ética, mas facílimo observar a mídia. Um policial atropela as normas legais, desrespeita as garantias da Constituição, combina previamente com a imprensa e expõe seus suspeitos nacionalmente. Não se limita a investigar, ele julga e executa, pois o patíbulo eletrônico é mais destruidor que os suplícios dos tempos do Santo Ofício. O pseudojusticeiro ganha fama instantânea e o processo torna-se mero apêndice sem relevância.
Para que isso prospere, assim como no filme italiano, é preciso que o público goste. E ele gosta. Esquecendo que o linchamento sem defesa é o oposto da Justiça. O Legislativo tem um festival de mazelas exposto diariamente. A maior iniciativa para a destruição moral do Parlamento partiu do Executivo, ao criar a corrupção sistêmica do malfadado Mensalão. Já surge a ideia de acabar com o Legislativo. Os inimigos da democracia se babam de deleite, e, aproveitando as lições de Gramsci, devidamente tropicalizadas e com recursos da mídia eletrônica, alimentam este clima, pois lhes interessa destruir as instituições. O que é para ser sigiloso acaba “vazando” e nada acontece com os autores desses estratégicos “vazamentos”, o arbítrio se banaliza. A obsessão pela notoriedade alimenta o apetite das luzes da mídia, que se compraz com os que lhe devotam subserviência. Quem trabalha corretamente de forma discreta, como convém à atividade judiciária, não se torna notícia e estes, felizmente, são a maioria. As escutas clandestinas, as operações midiáticas, a corrupção onipresente, formam um triste conjunto do estado policial, que ameaça a todos. É bom lembrar que o panis et circensis era o recurso predileto dos tiranos, os que recebiam o pão fácil do imperador e divertiam-se no circo, esqueciam que o preço deste espetáculo era a sua liberdade. O estrabismo da mídia que só enxerga o torto, sem valorizar o correto, também pode estar sendo manipulado e isso conduz ao descrédito geral. Que os corruptos sejam punidos, sem exceção, que acabem os abusos e privilégios, mas sempre dentro da lei; lembrando que a impunidade é o câncer que devora nossa sociedade. A relação promíscua de repórteres com protagonistas de ações espetaculares e arbitrárias, não pode ser minimizada. Não é possível tolerar que nossas garantias constitucionais sejam queimadas na fogueira de vaidades. Nada mais importante que a democracia, a justiça e a liberdade. Com estes valores não se pode transigir. Fora deles, apenas o mundo cão. Será isso que queremos?
Léo Lolovitch
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